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CONRE4 protagoniza debate nacional sobre futuro da Estatística em seminário comemorativo do Dia do Estatístico

  • Foto do escritor: CONRE4
    CONRE4
  • 31 de mai.
  • 5 min de leitura

Mesa-redonda sobre Estatística, Ciência de Dados e IA e Palestra Magna sobre a nova era da profissão reforçam papel estratégico do Sistema CONFE/CONREs na defesa da legitimidade técnica em tempos de inovação acelerada


Sábado, 31 de maio de 2025.



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Em homenagem ao Dia do Estatístico (29 de maio) e às comemorações dos 60 anos do Sistema CONFE/CONREs, o Conselho Regional de Estatística da 4ª Região (CONRE4) teve participação central no Seminário Comemorativo “O Presente e o Futuro da Estatística no Brasil: Formação, Valorização e Inovação”, encontro online realizado das 9h às 13h, que reuniu lideranças acadêmicas, profissionais e representantes dos Conselhos de Estatística de diferentes regiões do país.


O evento, aberto com fala do Presidente do CONFE, Márcio Costa, teve como eixo estrutural duas questões diretas e incômodas, porém incontornáveis para a profissão: “É uma carreira atraente?” e “Como estamos diante dos desafios da IA?”, organizando em torno delas mesas-redondas e conferências voltadas tanto à formação de novos quadros quanto à redefinição do lugar da Estatística em um ecossistema dominado por jargões de “data science” e “inteligência artificial”.


Nesse cenário, o CONRE4 foi representado em dois momentos estratégicos da programação:


  • na Mesa Redonda 2 – Futuro da Profissão – “Estatística, Ciência de Dados e IA: Competição ou Complementaridade?”, com a participação do Presidente do CONRE4, Estatístico Gabriel Afonso Marchesi Lopes;


  • e na Palestra Magna “A Nova Era da Estatística: Modelagem, Tecnologia e Relevância Social”, ministrada pelo Conselheiro Titular do CONRE4, Estatístico Márcio Nicolau.


Estatística, Ciência de Dados e IA: o ofício em disputa de narrativa


Na Mesa Redonda 2, ao lado de Tamara Mármore (presidenta do CONRE-3) e Leonard Assis (vice-presidente do CONRE-6), Gabriel Afonso Marchesi Lopes apresentou a conferência “O Ofício Estatístico em Risco? Formação, Mercado e Legitimidade em Tempos de Ciência de Dados”, em que problematizou, com linguagem direta e fundamentação técnica, a forma como a expansão de cursos de curta duração e bacharelados “emergentes” em Ciência de Dados e IA, muitas vezes com pouca ou nenhuma base estatística, tem reconfigurado o mercado sem, porém, resolver o núcleo do problema: a ignorância estatística estrutural de grande parte dos tomadores de decisão, profissionais de mercado e pesquisadores.


A partir dessa premissa, Gabriel desenvolveu três eixos de análise — formação, mercado e legitimidade — articulando-os em torno de uma pergunta incômoda: o risco recai sobre a profissão de Estatístico ou sobre a sociedade exposta a decisões automatizadas sem controle metodológico?


No eixo da formação, contrapôs a formação estatística de base, com ênfase em inferência, teoria da probabilidade, desenho amostral, modelagem e crítica de modelos, ao modelo de “formação acelerada” em Data Science, centrado em ferramentas, pacotes e modelos pré-prontos: cursos que ensinam “a apertar botões”, mas não ensinam a escutar os dados, avaliar suposições, medir incerteza e identificar vieses. A síntese crítica da fala foi condensada na frase que orientou toda a exposição: “Vivemos uma era em que todo mundo quer falar com dados, mas quase ninguém quer aprender a escutá-los.”


No eixo do mercado, Gabriel analisou as distorções produzidas por editais, vagas e projetos que substituem o Estatístico por rótulos genéricos – “analista de dados”, “cientista de dados”, “especialista em IA” – sem exigência de formação apropriada, mas com responsabilidade material sobre decisões de alto impacto. Esse movimento, segundo ele, cria um paradoxo: o mercado se torna “data-driven” no discurso, mas opera, de fato, com baixa densidade estatística, o que aumenta o risco de modelos mal calibrados, diagnósticos equivocados e políticas baseadas em correlações superficiais.


No eixo da legitimidade, o Presidente do CONRE4 sublinhou que a disputa não se resolve apenas por marketing profissional, e sim pela capacidade de o Estatístico ocupar espaços institucionais, assinar tecnicamente estudos relevantes, participar da formulação de marcos regulatórios e se fazer presente no debate público. Daí a afirmação central de sua conclusão: “A Ciência de Dados sem Estatística é um corpo sem nervos: se move, mas não sente o erro”, reforçando que o problema não é a IA em si, mas o uso irresponsável de modelos em contextos regulados, sem profissional habilitado respondendo pelos resultados.


Em sua leitura, “não é a IA que ameaça o ofício estatístico – é a ignorância estatística travestida de inovação”, síntese que conecta diretamente a pauta da formação, da regulação e da fiscalização profissional à sobrevivência da Estatística como ofício socialmente relevante, e não apenas como conjunto disperso de técnicas apropriáveis por qualquer discurso “tech”.


Palestra Magna: modelagem, tecnologia e relevância social da Estatística


Encerrando a manhã, a Palestra Magna “A Nova Era da Estatística: Modelagem, Tecnologia e Relevância Social” consolidou a presença do CONRE4 como vetor de reflexão técnica e estratégica sobre o futuro da profissão. Na sessão, que também contou com contribuição de Júlio Trecenti, o Conselheiro Titular do CONRE4, Estatístico Márcio Nicolau, abordou o tema “Estatística e Inteligência Artificial: semelhanças e diferenças”, cruzando sua experiência em modelos bayesianos, computação de alto desempenho e aplicações de IA e Deep Learning na detecção precoce de doenças em plantas com uma leitura crítica sobre o entusiasmo indiscriminado com “modelos de IA”.


Márcio explorou o ponto de contato estrutural entre Estatística e IA — ambos lidam com incerteza, generalização e predição —, mas foi enfático ao demarcar que sem clareza sobre hipótese, desenho de estudo, qualidade da base, viés de seleção e métricas de avaliação, a IA deixa de ser ferramenta e passa a ser caixa-preta de alto risco, sobretudo em contextos como agricultura, saúde pública, meio ambiente e políticas públicas.


Ao trazer exemplos de aplicação de modelos neuro-simbólicos e visão computacional na Embrapa, o Conselheiro evidenciou que os avanços tecnológicos mais promissores não substituem o Estatístico, ao contrário, exigem mais Estatística, seja na construção de bases de treinamento, na definição de medidas de desempenho, na interpretação de resultados ou na avaliação de impacto de decisões automatizadas. A relevância social da Estatística, nessa “nova era”, aparece exatamente no ponto em que o discurso de inovação tecnológica encontra a necessidade de responsabilidade técnica, rastreabilidade e prestação de contas.


Uma agenda integrada: formação, regulação e legitimidade pública


O desenho do Seminário — com uma primeira mesa voltada à formação e atratividade da carreira, uma segunda mesa focada no futuro da profissão frente à Ciência de Dados e à IA e, por fim, uma Palestra Magna sobre a nova era da Estatística — permitiu ao Sistema CONFE/CONREs explicitar que não há solução parcial:


  • sem formação sólida, a profissão perde profundidade e se torna refém de modismos;


  • sem regulação e fiscalização, a sociedade fica exposta a falsas estatísticas e a decisões não supervisionadas;


  • sem presença institucional, a Estatística perde legitimidade e deixa o espaço público ocupado por narrativas tecnológicas pouco responsáveis.


Ao participar de forma destacada da Mesa Redonda – Futuro da Profissão e da Palestra Magna, o CONRE4 reafirma uma linha clara de atuação: defender o Estatístico não como identidade corporativa vazia, mas como condição necessária para que o país tenha decisões baseadas em dados de forma ética, tecnicamente consistente e socialmente responsável.


Em síntese, a presença do Presidente Gabriel Afonso Marchesi Lopes e do Conselheiro Márcio Nicolau no Seminário Comemorativo do Dia do Estatístico coloca o CONRE4 no centro de um debate que não pode mais ser adiado: a Estatística não disputará espaço com a IA no campo da retórica, mas no campo da legitimidade técnica e institucional, onde formação rigorosa, marco regulatório atualizado e fiscalização efetiva se tornam, simultaneamente, defesa da profissão e proteção da sociedade.

 
 
 

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